Mario Bellatin e a arte do nojo
Por TNB.studio | 09/12/2015 | CinemaChocar é pós-moderno. Há muito se vão os anos em que o belo era só o normal, o padrão. O romantismo, com seus amores fáceis de sonetos bestas, já ficou pra trás. Saudoso Fernando Pessoa, Ricardo Reis que me perdoe, mas a arte agora é o nojo. E não é por puro sadismo.
O nojo, tabu, é parte de nós, talvez bem mais do que o romance, o tal transcendental belo. Somos o asco, os cheiros e o estrume. E as várias formas de arte nos trazem pra realidade do choque.
Nossa carta da vez é Mario Bellatin. O autor de pais peruanos, porém de residência mexicana traz o que falta, ainda que ninguém admita. A verdade nua e a nudez do real. Vem com garras no lugar de seu interminado braço. Garras, um pênis de borracha, um abridor de garrafas. Just name it. Essa marca do incompleto, do defeituoso está em todas as suas obras. Entre elas, Flores. Coletânea de contos que, teorias conspiracionistas dizem, serem interligados. Nesses, as mais diversas taras são relatadas. E não estamos falando de 50 tons de qualquer coisa. Estamos falando de travestis apanhando com tacos de baseball, por vontade própria, numa seita. É por aí que se desenvolve a obra do mexicano. Obras que, de início, são escritas quase num reality show ou numa reality fiction. O autor cria eventos para lançamentos de obras antes mesmo de as escrever, num processo de escrita imaginária. E é daí que surge, também, uma ideia revolucionária. Uma escola de escrita onde escrever é proibido escribir sin escribir. Afinal, a escrita passa a ser o retrato do agora, do possível em qualquer universo paralelo que queiramos imaginar dentro mesmo do nosso. Nessa composição da loucura, encontramos uma obra de arte. Um autor que traz o que é mais banido para o seu rosto em belas edições da Cosac Naify. Vale a pena conferir.
Com pegada semelhante a do escritor mexicano, o seriado Black Mirror retrata o sexo em seu lado doentio, mas agora com um paralelo às tecnologias. Cada temporada tem somente três episódios e cada um é uma metáfora da evolução de tecnologias que já temos. Da vida como espetáculo, de investirmos em vidas virtuais e esquecermos das reais, da constante vigilância. Tudo isso em paralelo com relações humanas distópicas, numa sociedade doente. E o choque não é por ser estranho. É por ser próximo demais.
A bola da vez é abraçar o nojo. Apreciar o podre. Degustar o lixo.
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